segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Escondidos na orla:
comparávamos pedrinhas brancas em silencio absoluto,
agachados como dois meninos que brincam paralelamente.
Eu não pensava no que você estava pensando,
tampouco você sabia o que se passava na minha mente.
Não havia, de fato, nada para falar.
Areia, pedras, conchas, joelhos nas orelhas
- pai acima de nossas cabecas -
e ao longe a linha tênue que divide o rio e do mar. 




terça-feira, 18 de maio de 2010

às vezes, no espelho,
sou outra,
outra Alice
que se olha no espelho como se não existisse

às vezes, eu olho bem lá no fundo
e nada, nada vejo
além de pequenos olhos úmidos

então, às vezes, não sou -
apenas estou no escuro
e, se abro os olhos,
lágrimas brotam do que eu chamaria de futuro

que nuvem é esta?
qualquer tipo de música?
e o que me impede de ver
esse grande segredo de ser
e ... de ser única?

domingo, 31 de janeiro de 2010

Toda vez que penso na flecha
que atingiu meu peito
se espalha das extremidades para o centro:
um calor imenso,
que é como o meu corpo agora
traduz a dor.

Arrancar a flecha,
cuidar da ferida aberta
(com antisépticos e analgésicos)
não adiantou.
Porque extraí a referência,
mas o significado da palavra flecha lá dentro ficou.


Antes tivesse deixado a ponta da flecha
na borda do coracão
- remoendo um pouquinho.

Ao menos a dor de agora seria real
e o corpo, quem sabe, teria posto para fora
essa ponta de palavra-flecha surreal.


E eu, lágrima nos olhos, poderia até chorar de verdade...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Ruelas estreitas,
Casarões...
Por onde andei?
Já não sei para onde vou. 

Já não sei onde estou
Já perdi quem sou

Ruelas estreitas,
Casarões...
Que nada mais significam, além
De veias, artérias, coracão. 




segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Deixei escapar ondas de luz - pura luz - que traiçoeiramente se curvaram ao objeto frio e artificial, tornando-o alvo invisível, impalpável, inatingível. Nada vi, nada vivi. Então, abandono esse meu pensamento  - farto de tantos reflexos - e passo a entender o sentido do ver, direto. E, como quem consegue dormir, depois de noites e noites em claro, recolho a luz das estrelas, contraio e suavemente parto.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Poucos minutos
e a chance de preencher esse vazio
estará fora de cogitação.
Poucos minutos
para eu me expor sem correr riscos.
Poucos minutos
para daqui conceber a frase perfeita,
o pensamento perfeito,
o instante perfeito da criação.
Poucos minutos eu tenho
para pensar nas perguntas importantes
e em suas possíveis respostas.
Poucos minutos para registrar tudo
que a minha percepção pode captar.
Poucos minutos para viver,
sem ter de deixar o coração sozinho batendo
ao lado da xícara de café.
Poucos minutos...
e os
meus olhos,
os meus olhos se voltam apenas para casa em ruínas:
apenas intuo o que está para acontecer.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Vento louco sem coracão
tapa os ouvidos
cerra os olhos 
e abre sua grande boca
para soprar em mim
(em vez de asas)
a voz simples e grave da madrugada