quarta-feira, 22 de julho de 2009

Era final de tarde entre as mangueiras da cidade. O sol, já cansado de brilhar o dia, dava uma trégua para aqueles que ainda estavam na rua. Os raios enfraquecidos entrecortavam as folhas das árvores criando uma atmosfera mágica, fresca e idealmente tropical. Eu não podia deixar de me sentir bem naquele dia. Aquele instante satisfazia meu sonho de infância de viver para sempre entre árvores, bichos, plantas, frutas, rios.

Mas eu não estava bem. Não estava bem mesmo. O túnel de mangueiras virou uma ameaça terrível; as mangas estavam prestes a despencar das árvores e atingir meu crânio já debilitado. O sol, escaldante, mesmo no final da tarde, era a metáfora do próprio inferno. Sentia-me sufocada e entrecortada pelos raios-labaredas. A atmosfera tinha um quê de feitiço que me prendia numa sensação mórbida de fim. O frescor inexistia e o clima tropical acendia os sentimentos mais tristes da minha alma. Meu sonho de infância havia se transformado num viver para sempre longe de árvores, bichos, frutas e rios.

Eu estava sozinha. Eu me sentia sozinha, talvez como qualquer outra pessoa do planeta se sente só no lugar em que está, no momento em que está. Entre as mangueiras da cidade eu vi sentido nenhum em ter querido um dia estar ali. E estar só e não ver sentido talvez seja o sentimento mais comum entre as pessoas. E eu que sempre quis epifania...

Um comentário:

  1. Fico pensando...a solidão há de ter um sentido...nem que seja o de se ver na solidão do outro, posteriormente.
    Essas mangueiras têm seus humores, todos eles muito fortes.

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